Voltei!
Sim, fiz três edições e sumi. A verdade é que eu não tinha muito o que falar, para quem não me conhece pessoalmente, eu sou mais ou menos assim: penso e falo super rápido, às vezes tão rápido que nem eu mesma entendo. E nunca paro de pensar! Não tenho um minuto sequer de silêncio mental, é uma convulsão, ora organizada, ora nem tanto. Então não ter muito o que falar, não necessariamente foi falta de assunto.
Disclaimer feito, te pergunto: aonde foram parar as cores no mundo?
Estava aqui, agora mesmo, conversando com o Guilherme – o digníssimo, sobre o quanto eu estava me sentindo sem graça, sem cor, como se toda a minha criatividade tivesse evaporado e levado junto as cores. Falávamos disso porque, em algum momento desses últimos dois dias, me passou pela cabeça – com sugestão do Gui, fazer um curso para aprender a tatuar. Foi aí, nesse momento, que percebi que toda a imensidão de cores que habitava a Amanda de 20 e poucos anos sumiu depois de transitar por um universo corporativo.
Como andam as cores no nosso guarda-roupa? A decoração das nossas casas? O ambiente de trabalho? Até os restaurantes ou lojas que frequentamos? Bege, preto e branco: adivinhei?
As cores estão sumindo, e não é de agora. Lembro de memes passados comparando o novo layout (não tão novo assim) do McDonald’s com o jovem 30+ deprimido.
Nossas casas estão cada vez mais parecidas com hotéis do que com lares; afinal, o branco é chic e o minimalismo está na moda. E se eu te dissesse que há uma diferença enorme entre o minimalismo estético e o minimalismo funcional? E que para ser minimalista você não precisa necessariamente ser clean? Isso mudaria na sua escolha diária? Você voltaria a ter mais cores na sua vida?
Eu não sei para você, mas para mim cor é vida. Lembro que quando estava conversando com a Nísia e a Sally sobre como eu gostaria que a minha identidade visual fosse, quais elementos a comporia e as cores que seriam, lembro que a única condição era que não fossem preto e branco. Então retiramos do meu cotidiano os elementos que a comporiam: verde, azul e marrom. Natureza, imensidão e café.
É fácil encontrar o contexto dessa falta de cor que vivemos. Não só é um reflexo de como nossa geração tem ficado cada vez mais esgotada, como é um movimento calculadamente programado pela indústria. Em um mundo de fabricação industrial e obsolescência programada, baratear custos e garantir giro rápido do produto na prateleira exige fabricar em cores pré-determinadas. E aí compramos um sofá marrom, uma cerâmica branca, uma cortina areia, um lençol branco, uma mesa de vidro; colocamos armários pré-moldados brancos na casa, com louça branca dentro; compramos roupas monocromáticas, sapatos preto, branco, marrom — e, no máximo, um vermelhinho. E por aí vai.
Além de todo o condicionamento da indústria em uma produção padronizada, há a publicidade: ela convence que o branco é tendencia, que ter uma casa minimalista (estética) é sinal de status. E, enquanto a nossa casa, nós e a nossa vida ficam cada vez mais pálidas, nos viciam em cores vibrantes e estímulos visuais nas redes sociais.
O padrão está aí, e esse é só um dos pontos. Poderíamos explorar muito mais — como o fato de que estampas e cores vibrantes foram sendo associadas à “coisa de pobre” numa referência claramente xenofóbica e racista, que despreza culturas não europeias. Ih… posso escrever uma dissertação inteira sobre isso.
UMA PEQUENA TEORIA
As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa.
Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes.
Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.
(A Menina que Roubava Livros - Markus Zusak)
Fatos curiosos para você ter em mente:
Preto e branco não são neutros.
O que existe são tons de bases neutras: cores como mostarda, marrom, verde, azul e até tons escuros de vermelho, podem ser bons neutros.
Casas de estética minimalista só realmente funcionam em duas situações: na revista ou no decorado.
O minimalismo funcional é você consumir menos.
Que tal começar o dia, amanhã, com mais cores?
Tire aquela peça alegre esquecida no armário, coloque uma música que te dá vontade de dançar — e saia para o seu dia assim. Depois, me conte como você se sentiu, aposto que seu humor agradece esse pequeno ato de resistência.
E assim seguimos, até a próxima edição!